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O papel do audiovisual na escola: da passividade à criticidade

Rubens Baldini Neto

Daí a importância estratégica cobrada hoje por uma escola capaz de um uso criativo e crítico das mídias audiovisuais e das tecnologias informáticas.
                                
    Jesus Matín-Barbero & Germán Rey, 2004. p. 62. 

 

   Que a televisão tem papel preponderante na formação dos jovens hoje em dia é indiscutível, porém as instituições de ensino insistem em ignorar a importância da formação audiovisual dos educandos. O teórico da comunicação na América Latina, J. Matín-Barbero  levanta algumas questões relevantes no que tange aos usos dos vídeos na escola. A primeira questão primordial que destaca Matín-Barbero é que a televisão permite aos “jovens estar presentes nas interações entre os adultos” (MARTÍN-BARBERO, 2004:55), isto é, o mundo adulto antes controlado pelas instituições da sociedade (escola, família, igreja…) encontra-se exposto abertamente nos programas de televisão, que apesar de haver uma “classificação etária” em geral é ignorada por país e pelos próprios jovens. 

 

    A segunda questão relevante elencada pelo teórico hispano-colombiano e também destacada pelo jornalista Sérgio Rizzo, em seu artigo na Revista Idéia Social de 2006, é que na escola predomina a leitura e a escrita, o verbal, nos processos pedagógicos e currículos oficiais. Assim, a escola está estruturada em fases/etapas no processo de desenvolvimento leitura e sua correspondente idade ideal (caberia aqui para quem trabalha com EJA, como eu, destacar que esta estrutura se mostra inteiramente equivocada, pois os processos de aprendizagem não se dão de forma linear e progressivo, e, sim com múltiplas dimensionalidades). Deste modo, a escola sabe que os meios audiovisuais constituem, em grande parte, os processos de apreensão de informações e até mesmo de conhecimento dos educandos do século XXI e tenta “controlar a imagem”, assim como tenta controlar a escrita tolhendo a criatividade e inventividade dos educandos, estabelecendo o “certo, de bom gosto” e o “errado e de mal gosto. 

 

     Portanto, a questão de fundo que se manifesta na escola no mundo hipermidiatização contemporâneo é o do “des-centramento cultural”, isto é, “as modificações profundas do espaço e tempo vividos pelos adolescentes, inseridos em processos vertiginosos desterritorialização da experiência e da identidade…” (MARTÍN-BARBERO, 2004: 58).

 

   Destarte, como enfrentar este desafio do “descentramento cultural”, da cultura do hipertexto, do palimpsesto e da multiculturalidade que se manifesta no mundo audiovisual que estamos imersos hoje? O professor José Moran (1999) nos traz alguns caminhos para pensarmos  na sala de aula com o cotidiano dos educandos: a própria linguagem audiovisual. Corroborando as propostas de Rizzo, o audiovisual deve ser inserido nas grades curriculares, não como meras ferramentas paradidáticas, mas como linguagem crucial para o exercício pleno de uma cidadania no mundo mediado pelo audiovisual, seja ele televisivo, virtual ou no cinema. A escola para cumprir seu papel de formar cidadãos críticos plenamente alfabetizados, hoje, deve também promover uma alfabetização audiovisual, qualificando os educadores na linguagem audiovisual e promovendo projetos interdisciplinares, mais adequados a cultura oral e audiovisual “descentrada”, se aproximando da perspectiva positiva que os educandos têm do vídeo e, sobretudo, dando voz as narrativas contra-hegemônicas que certamente surgirão das vivências cotidianas dos educandos, para além do mocinho ou vilão da novela, ou das “belezas inconfundíveis” dos documentários televisivos, a realidade traduzida em narrativa audiovisual tem o potencial de tirá-los do papel de “receptores meramente passivos” para leitores e produtores críticos do audiovisual.

MARTÍN-BARBERO, Jesús & REY, Germán. “Os exercícios do ver: hegemonia audiovisual e ficção televisiva”. São Paulo: Ed. SENAC, 2004. pp. 56-63. 

MORAN, José. “O vídeo na sala de aula”. In: Comunicação & Educação. São Paulo, ECA-Ed. Moderna, 27 a 35, jan./abr. de 1995. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/desafios_pessoais/vidsal.pdf . Acesso em 23/11/2019.

RIZZO, Sérgio. “Por uma escola que contemple o audiovisual”. In: Revista Ideia Social, número 5, setembro/outubro/novembro de 2006. Disponível em http://www.usp.br/nce/?wcp=/aeducomunicacao/texto,2,232,245. Acesso em 23/11/2019.

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