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Possibilidade de vídeo na Escola:
quebrando os estereótipos racistas

por Rubens Baldini Neto

Na escola, o cinema se insere como potência de invenção, experiência intensificada de fruição estético/políticas em que a percepção da possibilidade de invenção de mundos é um fim em si. (MIGLIORIN, 2019: 38)

 

Há vários vídeos que podem ser utilizados na disciplina de História da educação básica, destaco um vídeo de 2012, produzido pelo projeto “Que Bloco é este?” Malê Debalê e Emicida - Malê a Insurreição (Petrobrás/Malê Debalê) que conecta o passado e presente para discutir a herança de luta e resistência do povo negro na História do Brasil. 
 

Em suma, Revolta dos Malês é de suma importância para o movimento negro atual, tendo em seu bojo uma afirmação da luta e da resistência como marca dos negros contra a opressão. Além da documentação e do intenso trabalho historiográfico recente sobre a Revolta dos Malês, a relação entre o Islão, a escrita árabe e a diáspora negra é fundamental para derrubar estereótipos dos escravos negros no Brasil e aprofundar as diversas trajetórias complexas, mostrando que os negros escravizados eram sujeitos históricos com conhecimentos e histórias próprias. Portanto, trazer à tona essa diversidade de seres humanos escravizados, suas formas de resistência e mundividência torna-se crucial para combater o preconceito e o racismo na atualidade.
 

O estudo a partir do vídeo-clipe permitirá  quebrar o estereótipo do negro africano analfabeto e o Senhor branco letrado mostrando que os africanos islâmicos tinham muito mais instrução letrada que seus próprios Senhores, muitas vezes, analfabetos e iletrados, no contexto da Revolta dos Malês (1835). 
 

Assim, apresentar Malê a Insurreição e incitar um debate sobre lugar do negro na sociedade atual e por que o Emicida e o grupo dos Malê Debalê resgatam a memória da revolta e a partir desta discussão propor que os educandos produzam um vídeo (clipe, se quiserem) trazendo a problemática do racismo vivido no cotidiano deles (digo isto pensando nos educandos com que trabalho que são em sua maioria negros e moradores da periferia nos arredores da Escola). Poderíamos, iniciar solicitando que tragam músicas do seu repertório que eles compreendem como valorização de sua cultura (inclusive o Funk, atacado pelo moralismo preconceituoso e seus “brincantes” mortos sobre pisoteios dos agentes públicos de segurança).
 

Portanto, podemos compreender a possibilidade do uso do audiovisual pelos educandos primeiro como uma disputa pelas narrativas na sociedade atual da visualidade, ou nas palavras da professora E. Hambuguer, “o universo cinematográfico intensificou e estimulou a disputa pelo controle da visualidade, pela definição de que assuntos e personagens ganharam expressão audiovisual” (2007:10). Assim, os educandos podem contrarrestar os estereótipos construídos e propagados sobre suas manifestações culturais, sociais e de resistência  utilizando as ferramentas da própria sociedade pautada na visualidade. 

Em segundo lugar podemos compreender a possibilidade do uso pedagógico e da apropriação das ferramentas de produção do audiovisual como o audiovisual pode ser uma das possibilidades da emancipação, inclusive financeira, para os educandos. Para além de contar suas próprias narrativas, os educandos podem se despertar para este ramo laboral e cada vez mais se aperfeiçoar, inclusive se constituindo futuramente em produtores, autores de audiovisual comercialmente.

Referências

Hamburger, Esther. Violência e pobreza no cinema brasileiro recente: reflexões sobre a idéia de espetáculo. Novos Estudos. CEBRAP, v. 78, p. 113-128, 2007.

MIGLIORIN, CEZAR; PIPANO, Isaac . Cinema de Brincar. 1. ed. Belo Horizonte: Relicário, 2019. v. 1. 160p .

MELLO, Priscila Leal. O Islã negro no Brasil do século XIX: leitura, encantamento e revolução, Ano de obtenção: 2009. (Doutorado ICHF/UFF).

MUNANGA, Kabengele (org). Superando o racismo na escola. 3. ed. Brasília: Mec, 2001.

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês (1835). São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 665p.

 

Eletrônicas 

 

BALDINI NETO, R. ; MIKAMI, P. ; GONCALEZ, S. ; SOARES, C. P.; RODRIGUES, L. ; MARIN, P. P. ; SILVA, W. V. ; CABRAL, Y. S. Mil Histórias Numa Só - Revolta dos Malês. 2012. (Desenvolvimento de material didático ou instrucional - Paradidático). Disponível em: <http://diversitas.fflch.usp.br/node/3503>


Clipe do projeto “Que Bloco É Esse?” (Malê Debalê e Emicida - Malê a Insurreição) disponível no site https://youtu.be/0vOAsIzqqqs Acessado: 06 de dezembro 2019.
 

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